O desempenho económico de Portugal tem superado a média europeia desde 2019, com um crescimento médio anual duas vezes superior ao da zona euro, segundo Jean-François Dauphin, representante do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à agência Lusa em Washington, à margem dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, Dauphin elogiou os resultados obtidos pelo país: “Desde 2019 a média de crescimento de Portugal foi o dobro da média da zona euro, portanto, é um desempenho impressionante.”

Uma parte desse crescimento reflete o contexto pós-pandemia, que gerou um aumento da poupança acumulada e do desejo de viajar, especialmente num ambiente onde “os mercados de trabalho resistiram muito bem, dando um impulso ao consumo, e o investimento foi facilitado pelos fundos europeus, com a absorção a ser mais rápida em Portugal que noutros países”, afirmou o economista. Este cenário favoreceu também o turismo, setor que, segundo Dauphin, “está para ficar e é o resultado da atratividade do país”.

Apesar dos bons resultados, Dauphin destacou que a verdadeira questão é “como alavancar alguns dos ganhos que estão na base deste desempenho para que Portugal possa crescer mais depressa e convergir mais rapidamente com a União Europeia no padrão de vida e dos rendimentos”. Embora o país tenha apresentado avanços significativos na educação e formação profissional, Dauphin afirmou que “é preciso olhar para medidas mais abrangentes para aumentar a produtividade, tornar o ambiente empresarial mais fácil e com menos burocracia, e tornar o mercado de trabalho um pouco mais flexível”.

Quanto às principais ameaças ao crescimento económico, que o FMI estima em cerca de 2% para este ano e o próximo, o economista sublinhou os desafios comuns à Europa, como a tensão geopolítica e a volatilidade dos preços das matérias-primas, o que “aumenta a pressão sobre a inflação”. Contudo, Portugal enfrenta ainda “ameaças específicas” relacionadas com a produtividade baixa, o nível insuficiente de investimento público e o envelhecimento populacional que, segundo o economista, são pontos fundamentais para manter o crescimento económico: “No geral, Portugal enfrenta baixa produtividade, insuficiente nível de investimento público e uma população a envelhecer, e a chave para garantir que a economia continua a crescer é lidar com estes três pontos”.

Dauphin destacou ainda o esforço de consolidação orçamental de Portugal após o programa de ajustamento financeiro da década passada, afirmando que o país “fez um trabalho extraordinário”. Como resultado, a dívida pública em função do PIB caiu mais de 35 pontos percentuais desde a pandemia de covid-19, uma redução “extraordinária e quase única na Europa”, atribuída ao “grande consenso entre os decisores políticos”. “E acredito que também na população, da importância da responsabilidade orçamental”, referiu.